Na semana passada muito se falou sobre a nova forma de avaliação das escolas lançada pelo Ministério da Educação. Infelizmente, tenho lido muitos comentários de pessoas/profissionais de educação que não concordam com esta normativa.
As questões que levantam estão focadas em:
- facilitismos
- analfabetismo literário
- passar quem é burro
- candidatar-se à faculdade sabendo apenas a tabuada e ainda recorrendo ao livro como apoio
- passar quem ofende o professor
- garantir que quem culturalmente não é motivado a aprender nada, estrague a educação de quem realmente quer aprender
- esta nova avaliação vai dar para perceber as escolas onde não colocar os nossos filhos
- delinquentes mantidos dentro da sala de aula em nome da ‘inclusão’
- aulas onde se aprendem uns palavrões e recreios onde se passarão a converter-se ao islão
- escolas que saberemos onde existem mais emigrantes, e gente de outras religiões e também atrasados mentais...
E paro por aqui, porque não consigo ler mais coisas destas a respeito das crianças e jovens!
O ensino português está ainda longe de ser perfeito, é verdade! Mas haja audácia para iniciar novas estratégias para inverter aquilo que não é de todo um “direito à educação para todos” (segundo a lei de bases do sistema educativo) e aquilo que são os ‘rankings’.
Eu sei do que falo por experiência própria...
Trabalho num projeto piloto para a redução do abandono precoce de educação e formação que está sediado em Matosinhos. Eu e mais uma equipa fantástica de profissionais da área social, somos diariamente contactados por inúmeras escolas e outras entidades, querendo sinalizar jovens que apresentam um perfil para o nosso projeto (e ressalvo que nestas sinalizações nem sempre se referem a jovens que se encontram em situação de abandono escolar, mas sim jovens que têm vindo a apresentar um absentismo e insucesso escolar elevado). Já nos chegaram algumas vezes, sinalizações de 10/11 jovens de uma mesma escola (isto não será exclusão? Isto não será olhar para os rankings?)
Quando falo em insucesso escolar elevado, refiro-me a crianças/jovens com 5 retenções no 5º ano ou 6/7 retenções entre o 5º e o 6º anos e isto é uma atrocidade. Isto enfurece-me e frustra-me enquanto profissional de educação e enquanto ser humano. O que estamos a ensinar a estas crianças? Quem é que não está a ver esta situação? Quem é que em 5 ou 6 anos letivos ainda não conseguiu entender as verdadeiras necessidades destas crianças e jovens? Que impacto estamos a criar na sua auto-estima, autoconfiança e sucesso pessoal, académica e profissional ?
Nós recebemos diariamente no nosso projeto, jovens espatifados. Descrentes deles próprios. Jovens que não acreditam mais nas escolas, nos professores e criaram muralhas neles próprios, quase intransponíveis.
Quando alegam (nos comentários a esta nova forma de avaliação das escolas), que a educação para todos é deixar passar toda a gente... - Eu digo NÃO! Mas também não digo que reprovar resolva e seja justo!
Uma educação justa (aquela que ainda não é vivida em Portugal), é uma educação que promove os interesses das crianças e jovens, uma educação que olha com ‘olhos de ver/ olhos de detetive’ para as reais necessidades de cada uma delas, para as suas reais motivações, paras as suas reais potencialidades, para os seus reais sonhos e a partir daí serem desenhados um Planos Individuais de Formação que promovam o seu potencial humano (pessoal, social, académico e profissional).
Já há algumas coisas maravilhosas a serem feitas em Portugal e noutros países, vejamos o exemplo da Escola da Ponte, vejamos o trabalho que a Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos faz, vejamos o que os novos projetos Montessori, Waldorf, Reggio Emília estão a fazer... vejamos o ensino na Finlândia, Suécia ou o Projeto Âncora no Brasil.
Há cada vez mais famílias a optarem por integrarem filhos em projetos privados (como alguns destes em cima), não pelas razões apontadas e que recolhi dos comentários à notícia do Secretário de Estado João Costa, mas sim porque acreditam que enquanto o ensino público português não for capaz de integrar todos os aspetos da vida das nossas crianças, estaremos a compactuar com uma educação de massas e a criar indivíduos obedientes, não pensantes, não criativos, não autónomos, competitivos, bla bla bla.. tudo aquilo que é prejudicial para um ingresso autêntico e promissor do mercado de trabalho e na vida em geral.
Estes dias ouvia a Sra. Manuela Moura Guedes no telejornal da SIC referir que o atual governo aniquilou, do antigo governo, um percurso de formação que acha essencial - os Cursos Vocacionais (CV). Esta jornalista é defensora destes cursos, sem tão pouco saber, na realidade, como estes são utilizados/desenvolvidos.
Ela defende os CV porque acha que nem todos os jovens devem e/ou querem ser doutores e ingressar num curso superior. Na minha opinião, também acho que para termos sucesso na nossa vida, não temos necessariamente que integrar uma licenciatura ou mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento, até porque o conceito de sucesso e felicidade é muito subjetivo e muito abrangente.
No entanto, os CV e posteriormente profissionais, nem sempre funcionam (infelizmente) como uma alternativa aos cursos de ensino superior! Uma vez que estes percursos de formação, normalmente, não são selecionados pelos nossos jovens por uma questão de interesse e vocação, e sim por uma questão de imposição e exclusão (“já que não és capaz de acompanhar a turma nem te portas bem, vais para um curso vocacional”) – esta é, a maior parte das vezes, a realidade!
Por favor não digam às nossas crianças e jovens o que devem escolher ser e fazer... Por favor, ouçam-nas! Vejam-nas! e apoiem-nas a construirem os seus percursos formativos à sua medida!
O que falta ao ensino Português é lembrar-se das investigações que Howard Gardner fez desde 1980 em relação às Inteligências Múltiplas ou de olhar para as investigações e experiências de Maria Montessori entre os anos 30 e 40.
Quando formos capazes de ver o ser humano na íntegra, com as suas diferentes formas de aprender e as diferentes formas de se ser inteligente, vamos conseguir adequar as nossas práticas pedagógicas favorecendo todos de igual forma e aí sim - dar o verdadeiro direito à educação a todos!
Estou expectante para o COMO se fará esta nova avaliação (da inclusão)!
As escolas e os profissionais necessitam de ferramentas, necessitam de mais formação, não somente tecnicista, pois nisso, cada um é brilhante. Eu falo antes de uma formação humanista e sistémica, uma formação de desenvolvimento pessoal, uma vez que quando se fala em inclusão, é de desenvolvimento pessoal e humano que estamos a tratar.
O caminho faz-se caminhando! Em vez de instalarmos o medo e as críticas, instalemos oportunidades, compromissos éticos e cooperação!
💙🙏