terça-feira, 28 de abril de 2015

As minhas expectativas

As expectativas são sempre um tema controverso e pouco factual, contudo é questionável e sujeito a reflexão.
Acredito que a expectativa é a semente do sofrimento, um devaneio mental que nos aprisiona nas nossas próprias fantasias e limitações.  É o ato de esperar de mim, de alguém, do mundo, uma determinada imagem ou concepção.

Nesse sentido, podemos dividi-las em auto e hetero-expectativas, sendo que cada uma delas se relacionam e se influenciam mutuamente.

Na área da educação podemos observar as expectativas sobre vários pontos de vista:
- a sociedade exerce expectativas sobre os alunos e professores, 
- os professores exercem expectativas sobre os alunos e vice-versa
- os pais/encarregados de educação exercem expectativas sobre estes dois também. 
- cada elemento que referi (professor, aluno e enc. de educação) têm também expectativas em relação a si próprios.

É nesta última ideia que as expectativas estão inteiramente relacionadas com o meu auto-conceito, aquilo que penso que sou, aquilo que penso serem as minhas capacidades e competências. 
Independentemente se são positivas ou menos positivas, altas ou baixas, cada uma delas terá impacto no meu estado emocional, no meu comportamento e posteriormente nos resultados que estou a obter, e estes, por sua vez, validarão as expectativas que criei em relação a mim mesma.

Poder-se-à afirmar que os resultados pouco ou nada dizem sobre mim, mas mais sobre a concepção que tenho de mim propri@, e como diria José Pacheco, fundador da Escola da Ponte "As provas não provam nada".

O que sinto muitas vezes é que as expectativas que temos em relação aos alunos estão também relacionadas com os nossos preconceitos culturais e sociais. 

Quando criamos expectativas em relação a eles e o resultado que obtenho, não coincide com o 'esperado', posso escolher fazer várias coisas:
- sentir-me desiludid@ com os alunos
- sentir-me frustrad@ por não conseguir 'ensinar'
- desistir
- criar novas estratégias 
- viver em causa ou em efeito
- abrir espaço à curiosidade e aprendizagem  
- aceitar que só controlamos parte do processo - nós mesmos
- ...

O que acredito é que: 
- Se eu tomar responsabilidade sobre as minhas atitudes, se estiver predisposta a conhecer-me e a entrar num processo de aprendizagem constante, mais disponível estarei para ver os alunos à sua imagem, sem pre-concepções, julgamentos e transferências do meu mapa;
Também acredito que:
- as pessoas não são o seu comportamento;
- não existem fracassos, apenas feedbacks;
- a qualidade da minha comunicação é o resultado que obtenho dela;
- todos têm em si os recursos necessários para atingirem os seus objetivos (eu e os outros).


Quais são as expectativas em relação a ti própri@? E em relação aos outros?
Estarás preparad@ para te conheceres? Estarás preparad@ para tomar a responsabilidade das tuas atitudes, comunicação e resultados? Estarás preparad@ para aprender mais? Então, borá! :) 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A presença é tão importante!

Recebi mais uma sinalização, como tantas outras que recebo durante o meu dia. Uma menor que acabara de concluir 17 anos, com o 6º ano completo e 3 retenções no 7º.

O pai acompanhou-a, apesar de neste momento estar na vida da sua filha muito esporadicamente, pois tinha havido um processo de divórcio.
Estava desmotivada para continuar a frequentar a sua escola.
Partilhava ela: 'Tenho problemas com os meus colegas' - na conversa percebi que estava a sofrer de pressão, injúrias, adjetivação de características negativas em relação ao seu corpo e personalidade...

Este 'problema' fez com que a jovem, no ano letivo anterior, tenha desenvolvido um estado depressivo, por negação em relação a ela mesma (pouca auto-estima, confiança, segurança, auto-conceito...). Hoje tem acompanhamento pedopsiquiatrico e terapêutico.

Olhei para ela, via-a, aproximei-me e numa conversa de 45' observei que passou de um tremer de pernas inicial constantes, um olhar baixo e discreto, de discurso simples, para um sorriso, uma partilha, um olhar direto e um 'quero'.

Trago esta história, pois no final da conversa o pai partilhou:
- "Antes de virmos hoje aqui, estivemos na escola 'x', entregaram-nos um papel de inscrição para preenchermos em casa e levar noutro dia'.

Sabem...
Tudo o que esta menina precisava era de uns olhos, de uns ouvidos, de um sorriso, de um toque, de algumas palavras e acima de tudo de um sinal de esperança!

Os colegas dela são tão imaturos como certos adultos em determinadas escolas.

Ela gritava por dentro e só precisava de alguém que a conseguisse ouvir em presença!

<3

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Aceitação incondicional

Carl Rogers diz:
'Se uma pessoa é aceite, plenamente aceite, e nesta aceitação não há nenhum julgamento, apenas compaixão e solidariedade, o indivíduo está apto a abraçar-se a si mesmo, a desenvolver a coragem de abandonar as suas defesas e encarar seu eu verdadeiro.'

Os nossos processos de aceitação implicam um despir de filtros e crenças que trazemos na nossa experiência humana. A não consciência plena de que, a forma como me relaciono com o mundo segue um mapa de representações internas que me fazem avaliar e interpretá-lo fará com que me afaste da realidade em si mesma.

Na educação e no 'ser educador' este despir torna-se essencial e crucial na relação que escolho estabelecer com os educandos e inevitavelmente nos resultados que desejo obter nestas interações.

Exigimos muitas das vezes que os jovens nos ouçam, nos olhem, nos compreendam, estejam presentes e quase que me atreveria a dizer que nos esquecemos de os ver, ouvir, compreender e estar presentes, desde o primeiro encontro.

Por vezes, já no primeiro encontro lhes obrigamos a adulterar a sua identidade, através da forma de se vestir, falar, olhar, comunicar, andar... 
Quem somos nós para dizer que um boné é uma representação de 'ausência de respeito' quando na verdade não respeitamos a individualidade.
Quem somos nós para julgar a forma como os jovens se expressam, quando damos por nós a sentir desconforto sempre que alguém se ri da nossa pronúncia? 
Quem somos nós para afirmar que vestir de determinada forma determina a pessoa que é, quando nem quero imaginar como seria ir trabalhar todos os dias de lábios pintados de vermelho, pois essa não sou eu?

Em que é que uma escola ou um professor se foca quando tenta adulterar num primeiro encontro este tipo de identidade?
Estará plenamente consciente desta sua escolha ao relacioná-la com o sucesso dos jovens?
Em que é que esta alteração de identidade, diz realmente do outro? Estará a falar mais sobre o professor e da escola, do que propriamente do indivíduo que tem consigo?

A aceitação incondicional que Rogers partilha conosco tem haver com o aceitar:
- os bonés 
- os piercings 
- as tatuagens
- a história 
- o percurso
- as escolhas
- os pensamentos 
- as emoções 
- ...

Aceitar não significa concordar, Aceitar não significa cooperar, Aceitar não significa acomodar, Aceitar significa ver o outro sem julgamento e com compaixão, como um ser único, individual, com o seu mapa de crenças, valores, história, necessidades e acima de tudo, dotado de potencialidades.

Só quando formos capazes e tivermos disponibilidade para ver e aceitar o outro (aluno) ele também estará disponível e com aceitação para ver (o professor).

Aí inicia a relação! Com os olhos, os ouvidos, as mãos e os pés... Com presença e abertura!

<3 Daniela