A proposta que apresento aqui, tem a ver com a minha aprendizagem pessoal enquanto educadora.
Educar é uma arte! Toda a arte tem um esboço e na educação, o esboço somos nós!
Nesse sentido, para mim, conectar-me com o outro implica eu saber como me conectar comigo mesma, com a minha criança, com a minha jovem e agora com a minha adulta 'interior'.
Organizei 5 formas de como criar conexão, ressalvando que isto funciona para mim e é meramente uma proposta que quero partilhar.
1- Quem sou eu? ('Assumo a responsabilidade')
Estar em relação é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento. No entanto, nem sempre é um processo consciente para todas as pessoas.
Quando me sentia atacada, ameaçada, frustrada, triste, amedrontada, incapaz, insegura... na relação que estabelecia com os meus jovens, percebi que necessitava de iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e social. Não queria e não aceitava viver em efeito, e Inquieta como sou, questionava-me constantemente sobre as razões que me levavam a sentir o que sentia e a fazer o que fazia.
Porque sinto aquilo que sinto? Como faço aquilo que faço? Como penso, sinto e desejo? Que resultados estou a obter na minha relação com os outros? Como me vejo enquanto educadora? Que crenças trago comigo acerca de mim mesma que prejudicam ou beneficiam a minha relação com o outro? Como me relaciono com os meus medos, angústias, frustrações, desejos, raiva, ódio, prazer,...? Como lido com os ganhos e as perdas? Como defino objetivos? Como alcanço os meus sonhos? Como programo os meus dias e o meu trabalho? Como percebo as minhas necessidades? Sei definir os meus limites? Como costumo partilhar isto com os outros? No fundo, que tipo de exemplo quero ser?
Só começando a responder a estas questões é que estava preparada para ajudar os jovens a colocá-las a si próprios e a encontrarem as suas respostas.
Ter esta consciência coloca-nos em causa e acima de tudo, a assumir a responsabilidade pelas nossas emoções, pensamentos e ações, evitando as projeções e culpas sobre o outro e o mundo.
2- Quem és tu? ('Tens Interesse e igual valor para mim')
Para criar conexão com alguém, é necessário termos um interesse genuíno por essa pessoa, por quem ela é e não pelo que ela faz. Ligar-me a alguém é querer conhecer-lhe os sonhos, os desejos, os objetivos, os seus pensamentos, as suas emoções. É querer conhecê-la sem filtros, estereótipos, julgamentos. Conhecer alguém é permitir criar espaço para que a curiosidade e a aceitação apareçam verdadeiramente.
"...se uma pessoa é aceite, plenamente aceite, e nesta aceitação não há nenhum julgamento, apenas compaixão e solidariedade, o indivíduo está apto a abraçar-se a si mesmo, a desenvolver a coragem de abandonar as suas defesas e encarar o seu eu verdadeiro." (Carl Rogers)
Interessar-me verdadeiramente por quem é este/a aluno/a, implica levar o meu foco para o que está no interior dele/a e não para o que é exteriorizado, não para aquilo que me parece ser, não para o que me faz lembrar... Focar apenas no exterior é um caminho para o julgamento, para as avaliações, interpretações... E isso constituirá uma barreira a uma comunicação saudável e por conseguinte à conexão.
Cada criança e jovem é um ser único, com a sua história, com as suas emoções, com os seus sonhos, com pensamentos próprios, com medos, com anseios, com necessidades e potencialidades, logo, não há comparação possível com outra criança e jovem. Ver um/a aluno/a na íntegra e com autenticidade, cria espaço para que ele/ela se sinta visto/a, respeitado/a, seguro/a para se abrir e partilhar a sua essência.
"(...) Quando nos aproximamos de uma pessoa, percebemos os seus pensamentos, as suas emoções, os seus sentimentos, ela torna-se não só compreensível mas boa e desejavel."(Carl Rogers)
Exemplos disso podem ser:
"Professora, já leu o texto que escrevi?"
Uma opção de reação/resposta pode ser:
- "Muito bem! Gosto. Podes escrever mais!"
Outro opção e a que cria verdadeira conexão será:
- "Foste mesmo tu que escreveste? Quando escreveste isto? O que te levou a escrever sobre este assunto? É o teu primeiro texto ou tens mais? Gostas de escrever? Como te sentes quando escreves? Vou gostar muito que partilhes os teus textos comigo, sim?"
Neste último exemplo, afasto-me do exterior, do texto e volto-me/interesso-me verdadeiramente pelo mundo interno do/a aluno/a.
3- Presença e Fazer coisas juntos ('Estou aqui e quero estar contigo')
Parar o que estamos a fazer, olhar o/a aluno/a, ouvir com os ouvidos e o corpo todo, significa que ele/ela é importante para nós, que tem igual valor. Ele/ela sentir-se-à reconhecido/a, amado/a e aceite, o que ajuda a desenvolver a autoconfiança e uma boa autoestima.
Estar presente é um conceito bem amplo, implica que o professor seja um verdadeiro educador e salte de dentro da sala de aula para dentro dos contextos onde as crianças e jovens se encontram (recreio, bar, cantina, biblioteca, coração, pensamentos...).
Estar presente é um desafio... É necessário que eu responda com sinceridade, se 'quero estar presente e se quero fazer coisas contigo?'
Convido todos os educadores a brincarem no recreio com as crianças e jovens, convido a vestirem o equipamento e jogarem à bola, nadar juntos, dançar, fazer música, pintar juntos, conversar, almoçar, apenas permanecer em silêncio, meditar juntos, apanhar sol... Talvez possam descobrir um prazer na educação que há muito não sentiam.
Lembrem-se - estejam presentes, sem julgamentos.. Estejam em conexão com curiosidade, aceitação e explorem o vosso ser com eles. Evitam colocar ou definir regras de jogo... Eles sabem fazer isso melhor do que ninguém. Respeitem o espaço deles/delas com serenidade e confiem na relação.
Por vezes a nossa presença e vontade de fazer coisas juntos pode estar em pequenos momentos ou em pequenos gestos:
- Bom dia! , Boa tarde!
- Como te sentes hoje?
- Como foi a aula para ti?
- Se precisares de ajuda, eu estou aqui e posso ajudar-te
- Como foi o fim de semana? Aprendeste alguma coisa nova?
- Apetece-me jogar Ping Pong, quem quer jogar comigo?
- Vou estar aqui a organizar o espaço do bar, queres juntar-te a mim?
- Queres vir comigo à papelaria. Acho que vou precisar de ajuda.
- Tambem me apetece pintar. Queres a minha companhia?
4- Aprender a questionar ('O que sei sobre ti, sei porque tu me disseste')
Às vezes como educadores, achamos que por sermos os adultos e por sinal os 'mais experientes', tendemos a sugestionar, a dar conselhos e partilhar coisas como sendo 'verdades absolutas'.
Não somos detentores de verdades absolutas nenhumas.. Perguntaria: 'Verdades absolutas, como assim? comparado com o quê? Quem disse isso?...'.
Usar a comunicação desta forma é não praticar o igual valor... É achar que eu sei mais do que o outro (na verdade, posso saber algumas coisas, mas tem a ver com a minha experiência e pode não se aplicar ao outro. Tal como necessitei de experienciar para criar a minha verdade, o outro talvez também necessite de viver para criar a sua verdade).
O meu convite é saber questionar em vez de dar palpite/juízos de valor/avaliações... Exemplo:
- Observo que estás mais silencioso que o habitual. O que se passa? Como te sentes? O que pensas sobre isso? Se não acreditasses nisso, em que é que acreitarias? O que te faz pensar assim? O que te levou a ter aquela atitude? O que achas que o outro sentiu? O que poderias ter feito de diferente? Como pensas resolver isso?
Às vezes eles imploram pela nossa opinião. Já tive jovens a dizer: 'Stora, a sério, se fosse a professora no meu lugar o que fazia? É que eu não sei!' Eu por norma devolvo: 'O que é que achas que eu faria no teu lugar?'. Esta minha resposta nem sempre resulta porque devolvem com um: 'não sei.'
No entanto, eu poderia correr o risco de dizer o que faria no lugar dele/dela, mas prefiro sempre devolver em perguntas: 'O que te diz o coração? O que gostavas que acontecesse? Se não estivesses confuso, que decisão tomarias? O que te está a fazer duvidar?' (e por aí fora...)
Evitar os palpites e as sugestões, é devolver o poder com às crianças e jovens. É ajudar a construir autoconfiança e promover uma relação/conexão saudável, onde a abertura e a segurança estão muito presentes.
5 - Autenticidade ('Sou o que tu vês e não tenho medo de o partilhar contigo')
Se conseguires praticar o 1' e 4' pontos, a autenticidade já está presente.
Ser autêntico na relação com o outro, é mostrar-se, é ser pessoa na relação sem capas. É poder mostrar as minhas emoções, é ter espaço para também errar, é ter espaço para partilhar os meus limites e revelar as minhas necessidades. É poder ser sem me julgar por isso, ou seja, poder ser abalando uma eventual crença de que o professor tem de ser alguém perfeito, ou então de que ser professor é ensinar e não mostrar quem sou, ou ainda, ser autêntico aproxima-me demasiado dos alunos e não quero mostrar as minhas fraquezas porque se não perco credibilidade.
Se formos autênticos na relação que estabelecemos com o outro, estamos a ter respeito por nós mesmos e ensinamos às crianças e jovens que na autenticidade está a verdade, o respeito, a credibilidade, e por sua vez um 'Posso confiar em ti e posso me ligar a ti'. Valores muito importantes para o seu desenvolvimento.