quarta-feira, 20 de abril de 2016

Formas de me conectar melhor com os meus educandos


Quem acompanha os meus posts, sabe que para mim a conexão é a forma chave para uma relação saudável entre o educador e educando, seja ele criança, jovem ou adulto.

A proposta que apresento aqui, tem a ver com a minha aprendizagem pessoal enquanto educadora. 
Educar é uma arte! Toda a arte tem um esboço e na educação, o esboço somos nós!
Nesse sentido, para mim, conectar-me com o outro implica eu saber como me conectar comigo mesma, com a minha criança, com a minha jovem e agora com a minha adulta 'interior'.

Organizei 5 formas de como criar conexão, ressalvando que isto funciona para mim e é meramente uma proposta que quero partilhar.

1- Quem sou eu? ('Assumo a responsabilidade')

Estar em relação é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento. No entanto, nem sempre é um processo consciente para todas as pessoas. 
Quando me sentia atacada, ameaçada, frustrada, triste, amedrontada, incapaz, insegura... na relação que estabelecia com os meus jovens, percebi que necessitava de iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e social. Não queria e não aceitava viver em efeito, e Inquieta como sou, questionava-me constantemente sobre as razões que me levavam a sentir o que sentia e a fazer o que fazia.

Porque sinto aquilo que sinto? Como faço aquilo que faço? Como penso, sinto e desejo? Que resultados estou a obter na minha relação com os outros? Como me vejo enquanto educadora? Que crenças trago comigo acerca de mim mesma que prejudicam ou beneficiam a minha relação com o outro? Como me relaciono com os meus medos, angústias, frustrações, desejos, raiva, ódio, prazer,...? Como lido com os ganhos e as perdas? Como defino objetivos? Como alcanço os meus sonhos? Como programo os meus dias e o meu trabalho? Como percebo as minhas necessidades? Sei definir os meus limites? Como costumo partilhar isto com os outros? No fundo, que tipo de exemplo quero ser?

Só começando a responder a estas questões é que estava preparada para ajudar os jovens a colocá-las a si próprios e a encontrarem as suas respostas. 
Ter esta consciência coloca-nos em causa e acima de tudo, a assumir a responsabilidade pelas nossas emoções, pensamentos e ações, evitando as projeções e culpas sobre o outro e o mundo.


2- Quem és tu? ('Tens Interesse e igual valor para mim')

Para criar conexão com alguém, é necessário termos um interesse genuíno por essa pessoa, por quem ela é e não pelo que ela faz. Ligar-me a alguém é querer conhecer-lhe os sonhos, os desejos, os objetivos, os seus pensamentos, as suas emoções. É querer conhecê-la sem filtros, estereótipos, julgamentos. Conhecer alguém é permitir criar espaço para que a curiosidade e a aceitação apareçam verdadeiramente. 
"...se uma pessoa é aceite, plenamente aceite, e nesta aceitação não há nenhum julgamento, apenas compaixão e solidariedade, o indivíduo está apto a abraçar-se a si mesmo, a desenvolver a coragem de abandonar as suas defesas e encarar o seu eu verdadeiro." (Carl Rogers) 

Interessar-me verdadeiramente por quem é este/a aluno/a, implica levar o meu foco para o que está no interior dele/a e não para o que é exteriorizado, não para aquilo que me parece ser, não para o que me faz lembrar... Focar apenas no exterior é um caminho para o julgamento, para as avaliações, interpretações... E isso constituirá uma barreira a uma comunicação saudável e por conseguinte à conexão. 

Cada criança e jovem é um ser único, com a sua história, com as suas emoções, com os seus sonhos, com pensamentos próprios, com medos, com anseios, com necessidades e potencialidades, logo, não há comparação possível com outra criança e jovem. Ver um/a aluno/a na íntegra e com autenticidade, cria espaço para que ele/ela se sinta visto/a, respeitado/a, seguro/a para se abrir e partilhar a sua essência. 

"(...) Quando nos aproximamos de uma pessoa, percebemos os seus pensamentos, as suas emoções, os seus sentimentos, ela torna-se não só compreensível mas boa e desejavel."(Carl Rogers)

Exemplos disso podem ser:

"Professora, já leu o texto que escrevi?"

Uma opção de reação/resposta pode ser:
- "Muito bem! Gosto. Podes escrever mais!"

Outro opção e a que cria verdadeira conexão será: 
- "Foste mesmo tu que escreveste? Quando escreveste isto? O que te levou a escrever sobre este assunto? É o teu primeiro texto ou tens mais? Gostas de escrever? Como te sentes quando escreves? Vou gostar muito que partilhes os teus textos comigo, sim?"

Neste último exemplo, afasto-me do exterior, do texto e volto-me/interesso-me verdadeiramente pelo mundo interno do/a aluno/a.

3- Presença e Fazer coisas juntos ('Estou aqui e quero estar contigo')

Parar o que estamos a fazer, olhar o/a aluno/a, ouvir com os ouvidos e o corpo todo, significa que ele/ela é importante para nós, que tem igual valor. Ele/ela sentir-se-à reconhecido/a, amado/a e aceite, o que ajuda a desenvolver a autoconfiança e uma boa autoestima.

Estar presente é um conceito bem amplo, implica que o professor seja um verdadeiro educador e salte de dentro da sala de aula para dentro dos contextos onde as crianças e jovens se encontram (recreio, bar, cantina, biblioteca, coração, pensamentos...).
Estar presente é um desafio... É necessário que eu responda com sinceridade, se 'quero estar presente e se quero fazer coisas contigo?' 

Convido todos os educadores a brincarem no recreio com as crianças e jovens, convido a vestirem o equipamento e jogarem à bola, nadar juntos, dançar, fazer música, pintar juntos, conversar, almoçar, apenas permanecer em silêncio, meditar juntos, apanhar sol... Talvez possam descobrir um prazer na educação que há muito não sentiam.

Lembrem-se - estejam presentes, sem julgamentos.. Estejam em conexão com curiosidade, aceitação e explorem o vosso ser com eles. Evitam colocar ou definir regras de jogo... Eles sabem fazer isso melhor do que ninguém. Respeitem o espaço deles/delas com serenidade e confiem na relação.

Por vezes a nossa presença e vontade de fazer coisas juntos pode estar em pequenos momentos ou em pequenos gestos:
- Bom dia! , Boa tarde!
- Como te sentes hoje?
- Como foi a aula para ti?
- Se precisares de ajuda, eu estou aqui e posso ajudar-te
- Como foi o fim de semana? Aprendeste alguma coisa nova?
- Apetece-me jogar Ping Pong, quem quer jogar comigo?
- Vou estar aqui a organizar o espaço do bar, queres juntar-te a mim?
- Queres vir comigo à papelaria. Acho que vou precisar de ajuda.
- Tambem me apetece pintar. Queres a minha companhia? 

4- Aprender a questionar ('O que sei sobre ti, sei porque tu me disseste')

Às vezes como educadores, achamos que por sermos os adultos e por sinal os 'mais experientes', tendemos a sugestionar, a dar conselhos e partilhar coisas como sendo 'verdades absolutas'. 
Não somos detentores de verdades absolutas nenhumas.. Perguntaria: 'Verdades absolutas, como assim? comparado com o quê? Quem disse isso?...'. 
Usar a comunicação desta forma é não praticar o igual valor... É achar que eu sei mais do que o outro (na verdade, posso saber algumas coisas, mas tem a ver com a minha experiência e pode não se aplicar ao outro. Tal como necessitei de experienciar para criar a minha verdade, o outro talvez também necessite de viver para criar a sua verdade).

O meu convite é saber questionar em vez de dar palpite/juízos de valor/avaliações... Exemplo: 
- Observo que estás mais silencioso que o habitual. O que se passa? Como te sentes? O que pensas sobre isso? Se não acreditasses nisso, em que é que acreitarias? O que te faz pensar assim? O que te levou a ter aquela atitude? O que achas que o outro sentiu? O que poderias ter feito de diferente? Como pensas resolver isso? 

Às vezes eles imploram pela nossa opinião. Já tive jovens a dizer: 'Stora, a sério, se fosse a professora no meu lugar o que fazia? É que eu não sei!' Eu por norma devolvo: 'O que é que achas que eu faria no teu lugar?'. Esta minha resposta nem sempre resulta porque devolvem com um: 'não sei.' 
No entanto, eu poderia correr o risco de dizer o que faria no lugar dele/dela, mas prefiro sempre devolver em perguntas: 'O que te diz o coração? O que gostavas que acontecesse? Se não estivesses confuso, que decisão tomarias? O que te está a fazer duvidar?' (e por aí fora...)

Evitar os palpites e as sugestões, é devolver o poder com às crianças e jovens. É ajudar a construir autoconfiança e promover uma relação/conexão saudável, onde a abertura e a segurança estão muito presentes.

5 - Autenticidade ('Sou o que tu vês e não tenho medo de o partilhar contigo')

Se conseguires praticar o 1' e 4' pontos, a autenticidade já está presente.
Ser autêntico na relação com o outro, é mostrar-se, é ser pessoa na relação sem capas. É poder mostrar as minhas emoções, é ter espaço para também errar, é ter espaço para partilhar os meus limites e revelar as minhas necessidades. É poder ser sem me julgar por isso, ou seja, poder ser abalando uma eventual crença de que o professor tem de ser alguém perfeito, ou então de que ser professor é ensinar e não mostrar quem sou, ou ainda, ser autêntico aproxima-me demasiado dos alunos e não quero mostrar as minhas fraquezas porque se não perco credibilidade.

Se formos autênticos na relação que estabelecemos com o outro, estamos a ter respeito por nós mesmos e ensinamos às crianças e jovens que na autenticidade está a verdade, o respeito, a credibilidade, e por sua vez um 'Posso confiar em ti e posso me ligar a ti'. Valores muito importantes para o seu desenvolvimento.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Quando crio espaço a relação acontece

O termo 'criar espaço' foi para mim, uma das principais descobertas enquanto educadora. 
Sempre me considerei uma pessoa empática, interessada pelo outro, uma ouvinte presente, mas ao longo dos 2 primeiros anos deparei-me que falava pouco de mim aos meus alunos e isso estava a construir barreiras na minha relação com eles.

Descobri que existia uma parte de mim que estava a reproduzir os modelos de professor/educador que tinha conhecido.
Percebi que estava a estabelecer uma relação hierárquica, escondida atrás de uma aparente relação horizontal e democrática onde se praticava o igual valor.

Quando refiro, falar um 'pouco de mim', não quer dizer que tenha de passar a falar 'tudo de mim'. 
Percebi que praticar o Igual Valor, é um valor que quero construir na relação com os meus educandos e agora também com o meu filho.

Falar de mim, começou por ser uma tarefa desafiante, pois temia e acreditava principalmente em:
- se me exponho, perco o respeito
- estou aqui para ensinar e não para falar da minha vida
- o que eu sou e vivi não é assim tão interessante que mereça ser partilhado
- falar de mim aproxima-me demasiado dos alunos e depois não será fácil colocar limites

Percebi que não falar de mim, alimentava a minha necessidade de segurança e controlo, ou seja, necessidade de ser respeitada, fazer o que tinha a fazer e esconder-me atrás das minhas imperfeições, medos, pensamentos e emoções. No entanto, isso nem sempre me aproximava e facilitava a minha relação com os jovens e por conseguinte, essa forma não me fazia sentir feliz e acima de tudo não estava a conseguir obter o feedback desejado.

O meu papel na escola era sobretudo investigadora... Alguém que se senta com os jovens e questiona o que esses pensam, sentem, como foi o processo deles de formação e vida, como está a ser no presente, quais os planos para futuro, entre outras coisas. E foi num desses momentos em que percebi que algo estava a ser insuficiente, quando um jovem me faz a seguinte observação: 'Porque é que eu te hei-de contar a minha vida, se tu também não me contas a tua?!'.

Aquela observação, aquela verdade, aquele momento, foi sem dúvida a resposta que eu precisava de ouvir para alterar a minha percepção sobre Conexão e sobre Igual Valor.

De facto, quem era eu para 'invadir' a vida do outro se eu também não permita e não gostava que invadissem a minha? Quem era eu para recolher toda aquela informação se não abria espaço para partilhar um pouco da minha?! De que me servia a história deles se passava todo o tempo a esconder a minha?! Que direito tinha eu de lhes perguntar sobre os seus pensamentos e emoções se eu própria fugia dos meus?! Como é que eu achava que ia recolher informação autêntica se eu era uma estranha para eles?! Com que direito?!

Nesse momento, alterei a minha forma de estar na profissão e principalmente na relação. Percebi que a melhor forma de educar é pelo exemplo, pelo igual valor, pela verdade, pela partilha, pelo amor. Porque eu percebi que eles eram pessoas como eu (que estranho que isto me soa agora), com infância, adolescência, com medos, com alegrias, com frustrações, com mil e uma histórias para contar, com ódio, raiva, pensamentos negativos e autodestrutivos, com falhas e imperfeições, com qualidades e competências incríveis... 

Quando comecei a praticar igual valor, permitiu-me aprender e crescer com eles e permitiu que através do meu exemplo e forma como eu resolvia os meus obstáculos, resultasse na maior e melhor fonte de aprendizagem deles. 

Criar espaço, cria a relação! 

❤️

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Quando vejo as tuas necessidades

Hoje sem nenhuma razão aparente, recordei com saudade duas professoras do ciclo, nomeadamente do 8' e 9' anos. Uma de Matemática, a prof. Margarida e a outra de Ciências Naturais, que não me recordo do seu nome, mas sim do brilho do seu sorriso, do poder das suas gargalhadas e da energia que transbordava.
Sempre me considerei uma aluna mediana, daquelas que necessitavam de estudar e trabalhar para obter os resultados altos na escala estabelecida do nosso sistema de educação.
Hoje quero recordá-las, pois tiveram um enorme impacto na minha educação, mas principalmente na minha auto-estima e auto-confiança.
O meu 7'ano, foi, para mim, o mais desafiante. O ano em que senti mais dificuldades, menos conexão com a escola, estudos, desconectada comigo mesma... Ano em que a minha nota mais alta foi um 4 a Educação Visual e ano em que tirei a minha primeira e ultima negativa numa pauta final.
Sentia-me triste, desencorajada, pouco confiante e por vezes até senti que era 'burra'. Hoje isto parece ter pouca relevância, no entanto uma criança com 12 anos não percebe isso. 
Ano letivo em que não me senti apoiada pela escola e principalmente pelos professores. Era mais uma aluna.. Era mais uma nota.. Era mais um resultado.. Mas para mim, eu era única, era 'aquela nota', era 'aquele resultado', era 'aquele sentimento'...

Hoje quero falar destas duas professoras, porque elas, de uma forma consciente ou inconsciente perceberam que eu tinha uma grande necessidade de conexão e reconhecimento e sem eu entender a razão, sentia-me muito feliz e motivada em frequentar a escola, as aulas... Eu sorria, eu divertia-me, eu ajudava os outros, eu queria estar ali. 
Os meus níveis de satisfação, interesse, motivação, curiosidade, criatividade, alegria e relação com a comunidade educativa e a escola, subiram exponencialmente, e acima de tudo, criei uma nova crença e perspectiva de mim mesma: 'eu sou capaz'.

Acreditando hoje que as provas não provam nada, quero contudo partilhar que essas duas professoras permitiram-me terminar o 9' ano, depois das provas globais, com seis 5's e quatro 4's na pauta final, de uma forma prazerosa e sem esforço.

E se elas não me tivessem visto? E se elas não se tivessem conectado comigo? E se elas não sorrissem e fossem animadas? E se elas não tivessem disponibilizado o seu tempo com presença para mim? E se...? Estaria aqui hoje a escrever este texto?

Existem várias necessidades observáveis através do comportamento humano e quando alimentadas, cada ser humano será mais capaz de escalar uma montanha.

Segundo a pirâmide das necessidades básicas de Maslow, é apenas no topo que encontramos a necessidade de obter conhecimento; por conseguinte, aquilo que a escola pretende dar, incutir e 'obrigar' o aluno a atingir é o saber, esquecendo-se que as crianças e jovens são como as casas... Não se constroem pelo telhado.

Na minha prática diária com jovens e jovens-adultos em risco, utilizo esta diferenciação de necessidades básicas* que me ajudam a perceber melhor cada um e assim conseguir adequar a minha intervenção de uma forma mais eficaz e pessoal:
- necessidade de Conexão e Pertença
- necessidade de Conhecimento e Segurança 
- necessidade de Importância e Reconhecimento
- necessidade de Experiência e Novidade

Por isso, questiono-lhe: 'E se conseguisse perceber as reais necessidades dos seus alunos? E se descobrisse também as suas reais necessidades? Que resultados gostaria de atingir dentro da sua sala de aula e como se sentiria com isso?'.

São a estas e a outras questões que ajudo a 'responder' quando acompanho educadores e professores. Se quer saber como, envie e-mail para danielaflaranjeira@gmail.com ou acompanhe e contacte-me através da minha página do facebook Relações Mais Conscientes.

❤️

* (necessidades básicas segundo modelo Laser de Pedro Vieira, master trainner LifeTraining)