Sempre me considerei uma pessoa empática, interessada pelo outro, uma ouvinte presente, mas ao longo dos 2 primeiros anos deparei-me que falava pouco de mim aos meus alunos e isso estava a construir barreiras na minha relação com eles.
Descobri que existia uma parte de mim que estava a reproduzir os modelos de professor/educador que tinha conhecido.
Percebi que estava a estabelecer uma relação hierárquica, escondida atrás de uma aparente relação horizontal e democrática onde se praticava o igual valor.
Quando refiro, falar um 'pouco de mim', não quer dizer que tenha de passar a falar 'tudo de mim'.
Percebi que praticar o Igual Valor, é um valor que quero construir na relação com os meus educandos e agora também com o meu filho.
Falar de mim, começou por ser uma tarefa desafiante, pois temia e acreditava principalmente em:
- se me exponho, perco o respeito
- estou aqui para ensinar e não para falar da minha vida
- o que eu sou e vivi não é assim tão interessante que mereça ser partilhado
- falar de mim aproxima-me demasiado dos alunos e depois não será fácil colocar limites
Percebi que não falar de mim, alimentava a minha necessidade de segurança e controlo, ou seja, necessidade de ser respeitada, fazer o que tinha a fazer e esconder-me atrás das minhas imperfeições, medos, pensamentos e emoções. No entanto, isso nem sempre me aproximava e facilitava a minha relação com os jovens e por conseguinte, essa forma não me fazia sentir feliz e acima de tudo não estava a conseguir obter o feedback desejado.
O meu papel na escola era sobretudo investigadora... Alguém que se senta com os jovens e questiona o que esses pensam, sentem, como foi o processo deles de formação e vida, como está a ser no presente, quais os planos para futuro, entre outras coisas. E foi num desses momentos em que percebi que algo estava a ser insuficiente, quando um jovem me faz a seguinte observação: 'Porque é que eu te hei-de contar a minha vida, se tu também não me contas a tua?!'.
Aquela observação, aquela verdade, aquele momento, foi sem dúvida a resposta que eu precisava de ouvir para alterar a minha percepção sobre Conexão e sobre Igual Valor.
De facto, quem era eu para 'invadir' a vida do outro se eu também não permita e não gostava que invadissem a minha? Quem era eu para recolher toda aquela informação se não abria espaço para partilhar um pouco da minha?! De que me servia a história deles se passava todo o tempo a esconder a minha?! Que direito tinha eu de lhes perguntar sobre os seus pensamentos e emoções se eu própria fugia dos meus?! Como é que eu achava que ia recolher informação autêntica se eu era uma estranha para eles?! Com que direito?!
Nesse momento, alterei a minha forma de estar na profissão e principalmente na relação. Percebi que a melhor forma de educar é pelo exemplo, pelo igual valor, pela verdade, pela partilha, pelo amor. Porque eu percebi que eles eram pessoas como eu (que estranho que isto me soa agora), com infância, adolescência, com medos, com alegrias, com frustrações, com mil e uma histórias para contar, com ódio, raiva, pensamentos negativos e autodestrutivos, com falhas e imperfeições, com qualidades e competências incríveis...
Quando comecei a praticar igual valor, permitiu-me aprender e crescer com eles e permitiu que através do meu exemplo e forma como eu resolvia os meus obstáculos, resultasse na maior e melhor fonte de aprendizagem deles.
Criar espaço, cria a relação!
❤️
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