quarta-feira, 20 de abril de 2016

Formas de me conectar melhor com os meus educandos


Quem acompanha os meus posts, sabe que para mim a conexão é a forma chave para uma relação saudável entre o educador e educando, seja ele criança, jovem ou adulto.

A proposta que apresento aqui, tem a ver com a minha aprendizagem pessoal enquanto educadora. 
Educar é uma arte! Toda a arte tem um esboço e na educação, o esboço somos nós!
Nesse sentido, para mim, conectar-me com o outro implica eu saber como me conectar comigo mesma, com a minha criança, com a minha jovem e agora com a minha adulta 'interior'.

Organizei 5 formas de como criar conexão, ressalvando que isto funciona para mim e é meramente uma proposta que quero partilhar.

1- Quem sou eu? ('Assumo a responsabilidade')

Estar em relação é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento. No entanto, nem sempre é um processo consciente para todas as pessoas. 
Quando me sentia atacada, ameaçada, frustrada, triste, amedrontada, incapaz, insegura... na relação que estabelecia com os meus jovens, percebi que necessitava de iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e social. Não queria e não aceitava viver em efeito, e Inquieta como sou, questionava-me constantemente sobre as razões que me levavam a sentir o que sentia e a fazer o que fazia.

Porque sinto aquilo que sinto? Como faço aquilo que faço? Como penso, sinto e desejo? Que resultados estou a obter na minha relação com os outros? Como me vejo enquanto educadora? Que crenças trago comigo acerca de mim mesma que prejudicam ou beneficiam a minha relação com o outro? Como me relaciono com os meus medos, angústias, frustrações, desejos, raiva, ódio, prazer,...? Como lido com os ganhos e as perdas? Como defino objetivos? Como alcanço os meus sonhos? Como programo os meus dias e o meu trabalho? Como percebo as minhas necessidades? Sei definir os meus limites? Como costumo partilhar isto com os outros? No fundo, que tipo de exemplo quero ser?

Só começando a responder a estas questões é que estava preparada para ajudar os jovens a colocá-las a si próprios e a encontrarem as suas respostas. 
Ter esta consciência coloca-nos em causa e acima de tudo, a assumir a responsabilidade pelas nossas emoções, pensamentos e ações, evitando as projeções e culpas sobre o outro e o mundo.


2- Quem és tu? ('Tens Interesse e igual valor para mim')

Para criar conexão com alguém, é necessário termos um interesse genuíno por essa pessoa, por quem ela é e não pelo que ela faz. Ligar-me a alguém é querer conhecer-lhe os sonhos, os desejos, os objetivos, os seus pensamentos, as suas emoções. É querer conhecê-la sem filtros, estereótipos, julgamentos. Conhecer alguém é permitir criar espaço para que a curiosidade e a aceitação apareçam verdadeiramente. 
"...se uma pessoa é aceite, plenamente aceite, e nesta aceitação não há nenhum julgamento, apenas compaixão e solidariedade, o indivíduo está apto a abraçar-se a si mesmo, a desenvolver a coragem de abandonar as suas defesas e encarar o seu eu verdadeiro." (Carl Rogers) 

Interessar-me verdadeiramente por quem é este/a aluno/a, implica levar o meu foco para o que está no interior dele/a e não para o que é exteriorizado, não para aquilo que me parece ser, não para o que me faz lembrar... Focar apenas no exterior é um caminho para o julgamento, para as avaliações, interpretações... E isso constituirá uma barreira a uma comunicação saudável e por conseguinte à conexão. 

Cada criança e jovem é um ser único, com a sua história, com as suas emoções, com os seus sonhos, com pensamentos próprios, com medos, com anseios, com necessidades e potencialidades, logo, não há comparação possível com outra criança e jovem. Ver um/a aluno/a na íntegra e com autenticidade, cria espaço para que ele/ela se sinta visto/a, respeitado/a, seguro/a para se abrir e partilhar a sua essência. 

"(...) Quando nos aproximamos de uma pessoa, percebemos os seus pensamentos, as suas emoções, os seus sentimentos, ela torna-se não só compreensível mas boa e desejavel."(Carl Rogers)

Exemplos disso podem ser:

"Professora, já leu o texto que escrevi?"

Uma opção de reação/resposta pode ser:
- "Muito bem! Gosto. Podes escrever mais!"

Outro opção e a que cria verdadeira conexão será: 
- "Foste mesmo tu que escreveste? Quando escreveste isto? O que te levou a escrever sobre este assunto? É o teu primeiro texto ou tens mais? Gostas de escrever? Como te sentes quando escreves? Vou gostar muito que partilhes os teus textos comigo, sim?"

Neste último exemplo, afasto-me do exterior, do texto e volto-me/interesso-me verdadeiramente pelo mundo interno do/a aluno/a.

3- Presença e Fazer coisas juntos ('Estou aqui e quero estar contigo')

Parar o que estamos a fazer, olhar o/a aluno/a, ouvir com os ouvidos e o corpo todo, significa que ele/ela é importante para nós, que tem igual valor. Ele/ela sentir-se-à reconhecido/a, amado/a e aceite, o que ajuda a desenvolver a autoconfiança e uma boa autoestima.

Estar presente é um conceito bem amplo, implica que o professor seja um verdadeiro educador e salte de dentro da sala de aula para dentro dos contextos onde as crianças e jovens se encontram (recreio, bar, cantina, biblioteca, coração, pensamentos...).
Estar presente é um desafio... É necessário que eu responda com sinceridade, se 'quero estar presente e se quero fazer coisas contigo?' 

Convido todos os educadores a brincarem no recreio com as crianças e jovens, convido a vestirem o equipamento e jogarem à bola, nadar juntos, dançar, fazer música, pintar juntos, conversar, almoçar, apenas permanecer em silêncio, meditar juntos, apanhar sol... Talvez possam descobrir um prazer na educação que há muito não sentiam.

Lembrem-se - estejam presentes, sem julgamentos.. Estejam em conexão com curiosidade, aceitação e explorem o vosso ser com eles. Evitam colocar ou definir regras de jogo... Eles sabem fazer isso melhor do que ninguém. Respeitem o espaço deles/delas com serenidade e confiem na relação.

Por vezes a nossa presença e vontade de fazer coisas juntos pode estar em pequenos momentos ou em pequenos gestos:
- Bom dia! , Boa tarde!
- Como te sentes hoje?
- Como foi a aula para ti?
- Se precisares de ajuda, eu estou aqui e posso ajudar-te
- Como foi o fim de semana? Aprendeste alguma coisa nova?
- Apetece-me jogar Ping Pong, quem quer jogar comigo?
- Vou estar aqui a organizar o espaço do bar, queres juntar-te a mim?
- Queres vir comigo à papelaria. Acho que vou precisar de ajuda.
- Tambem me apetece pintar. Queres a minha companhia? 

4- Aprender a questionar ('O que sei sobre ti, sei porque tu me disseste')

Às vezes como educadores, achamos que por sermos os adultos e por sinal os 'mais experientes', tendemos a sugestionar, a dar conselhos e partilhar coisas como sendo 'verdades absolutas'. 
Não somos detentores de verdades absolutas nenhumas.. Perguntaria: 'Verdades absolutas, como assim? comparado com o quê? Quem disse isso?...'. 
Usar a comunicação desta forma é não praticar o igual valor... É achar que eu sei mais do que o outro (na verdade, posso saber algumas coisas, mas tem a ver com a minha experiência e pode não se aplicar ao outro. Tal como necessitei de experienciar para criar a minha verdade, o outro talvez também necessite de viver para criar a sua verdade).

O meu convite é saber questionar em vez de dar palpite/juízos de valor/avaliações... Exemplo: 
- Observo que estás mais silencioso que o habitual. O que se passa? Como te sentes? O que pensas sobre isso? Se não acreditasses nisso, em que é que acreitarias? O que te faz pensar assim? O que te levou a ter aquela atitude? O que achas que o outro sentiu? O que poderias ter feito de diferente? Como pensas resolver isso? 

Às vezes eles imploram pela nossa opinião. Já tive jovens a dizer: 'Stora, a sério, se fosse a professora no meu lugar o que fazia? É que eu não sei!' Eu por norma devolvo: 'O que é que achas que eu faria no teu lugar?'. Esta minha resposta nem sempre resulta porque devolvem com um: 'não sei.' 
No entanto, eu poderia correr o risco de dizer o que faria no lugar dele/dela, mas prefiro sempre devolver em perguntas: 'O que te diz o coração? O que gostavas que acontecesse? Se não estivesses confuso, que decisão tomarias? O que te está a fazer duvidar?' (e por aí fora...)

Evitar os palpites e as sugestões, é devolver o poder com às crianças e jovens. É ajudar a construir autoconfiança e promover uma relação/conexão saudável, onde a abertura e a segurança estão muito presentes.

5 - Autenticidade ('Sou o que tu vês e não tenho medo de o partilhar contigo')

Se conseguires praticar o 1' e 4' pontos, a autenticidade já está presente.
Ser autêntico na relação com o outro, é mostrar-se, é ser pessoa na relação sem capas. É poder mostrar as minhas emoções, é ter espaço para também errar, é ter espaço para partilhar os meus limites e revelar as minhas necessidades. É poder ser sem me julgar por isso, ou seja, poder ser abalando uma eventual crença de que o professor tem de ser alguém perfeito, ou então de que ser professor é ensinar e não mostrar quem sou, ou ainda, ser autêntico aproxima-me demasiado dos alunos e não quero mostrar as minhas fraquezas porque se não perco credibilidade.

Se formos autênticos na relação que estabelecemos com o outro, estamos a ter respeito por nós mesmos e ensinamos às crianças e jovens que na autenticidade está a verdade, o respeito, a credibilidade, e por sua vez um 'Posso confiar em ti e posso me ligar a ti'. Valores muito importantes para o seu desenvolvimento.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Quando crio espaço a relação acontece

O termo 'criar espaço' foi para mim, uma das principais descobertas enquanto educadora. 
Sempre me considerei uma pessoa empática, interessada pelo outro, uma ouvinte presente, mas ao longo dos 2 primeiros anos deparei-me que falava pouco de mim aos meus alunos e isso estava a construir barreiras na minha relação com eles.

Descobri que existia uma parte de mim que estava a reproduzir os modelos de professor/educador que tinha conhecido.
Percebi que estava a estabelecer uma relação hierárquica, escondida atrás de uma aparente relação horizontal e democrática onde se praticava o igual valor.

Quando refiro, falar um 'pouco de mim', não quer dizer que tenha de passar a falar 'tudo de mim'. 
Percebi que praticar o Igual Valor, é um valor que quero construir na relação com os meus educandos e agora também com o meu filho.

Falar de mim, começou por ser uma tarefa desafiante, pois temia e acreditava principalmente em:
- se me exponho, perco o respeito
- estou aqui para ensinar e não para falar da minha vida
- o que eu sou e vivi não é assim tão interessante que mereça ser partilhado
- falar de mim aproxima-me demasiado dos alunos e depois não será fácil colocar limites

Percebi que não falar de mim, alimentava a minha necessidade de segurança e controlo, ou seja, necessidade de ser respeitada, fazer o que tinha a fazer e esconder-me atrás das minhas imperfeições, medos, pensamentos e emoções. No entanto, isso nem sempre me aproximava e facilitava a minha relação com os jovens e por conseguinte, essa forma não me fazia sentir feliz e acima de tudo não estava a conseguir obter o feedback desejado.

O meu papel na escola era sobretudo investigadora... Alguém que se senta com os jovens e questiona o que esses pensam, sentem, como foi o processo deles de formação e vida, como está a ser no presente, quais os planos para futuro, entre outras coisas. E foi num desses momentos em que percebi que algo estava a ser insuficiente, quando um jovem me faz a seguinte observação: 'Porque é que eu te hei-de contar a minha vida, se tu também não me contas a tua?!'.

Aquela observação, aquela verdade, aquele momento, foi sem dúvida a resposta que eu precisava de ouvir para alterar a minha percepção sobre Conexão e sobre Igual Valor.

De facto, quem era eu para 'invadir' a vida do outro se eu também não permita e não gostava que invadissem a minha? Quem era eu para recolher toda aquela informação se não abria espaço para partilhar um pouco da minha?! De que me servia a história deles se passava todo o tempo a esconder a minha?! Que direito tinha eu de lhes perguntar sobre os seus pensamentos e emoções se eu própria fugia dos meus?! Como é que eu achava que ia recolher informação autêntica se eu era uma estranha para eles?! Com que direito?!

Nesse momento, alterei a minha forma de estar na profissão e principalmente na relação. Percebi que a melhor forma de educar é pelo exemplo, pelo igual valor, pela verdade, pela partilha, pelo amor. Porque eu percebi que eles eram pessoas como eu (que estranho que isto me soa agora), com infância, adolescência, com medos, com alegrias, com frustrações, com mil e uma histórias para contar, com ódio, raiva, pensamentos negativos e autodestrutivos, com falhas e imperfeições, com qualidades e competências incríveis... 

Quando comecei a praticar igual valor, permitiu-me aprender e crescer com eles e permitiu que através do meu exemplo e forma como eu resolvia os meus obstáculos, resultasse na maior e melhor fonte de aprendizagem deles. 

Criar espaço, cria a relação! 

❤️

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Quando vejo as tuas necessidades

Hoje sem nenhuma razão aparente, recordei com saudade duas professoras do ciclo, nomeadamente do 8' e 9' anos. Uma de Matemática, a prof. Margarida e a outra de Ciências Naturais, que não me recordo do seu nome, mas sim do brilho do seu sorriso, do poder das suas gargalhadas e da energia que transbordava.
Sempre me considerei uma aluna mediana, daquelas que necessitavam de estudar e trabalhar para obter os resultados altos na escala estabelecida do nosso sistema de educação.
Hoje quero recordá-las, pois tiveram um enorme impacto na minha educação, mas principalmente na minha auto-estima e auto-confiança.
O meu 7'ano, foi, para mim, o mais desafiante. O ano em que senti mais dificuldades, menos conexão com a escola, estudos, desconectada comigo mesma... Ano em que a minha nota mais alta foi um 4 a Educação Visual e ano em que tirei a minha primeira e ultima negativa numa pauta final.
Sentia-me triste, desencorajada, pouco confiante e por vezes até senti que era 'burra'. Hoje isto parece ter pouca relevância, no entanto uma criança com 12 anos não percebe isso. 
Ano letivo em que não me senti apoiada pela escola e principalmente pelos professores. Era mais uma aluna.. Era mais uma nota.. Era mais um resultado.. Mas para mim, eu era única, era 'aquela nota', era 'aquele resultado', era 'aquele sentimento'...

Hoje quero falar destas duas professoras, porque elas, de uma forma consciente ou inconsciente perceberam que eu tinha uma grande necessidade de conexão e reconhecimento e sem eu entender a razão, sentia-me muito feliz e motivada em frequentar a escola, as aulas... Eu sorria, eu divertia-me, eu ajudava os outros, eu queria estar ali. 
Os meus níveis de satisfação, interesse, motivação, curiosidade, criatividade, alegria e relação com a comunidade educativa e a escola, subiram exponencialmente, e acima de tudo, criei uma nova crença e perspectiva de mim mesma: 'eu sou capaz'.

Acreditando hoje que as provas não provam nada, quero contudo partilhar que essas duas professoras permitiram-me terminar o 9' ano, depois das provas globais, com seis 5's e quatro 4's na pauta final, de uma forma prazerosa e sem esforço.

E se elas não me tivessem visto? E se elas não se tivessem conectado comigo? E se elas não sorrissem e fossem animadas? E se elas não tivessem disponibilizado o seu tempo com presença para mim? E se...? Estaria aqui hoje a escrever este texto?

Existem várias necessidades observáveis através do comportamento humano e quando alimentadas, cada ser humano será mais capaz de escalar uma montanha.

Segundo a pirâmide das necessidades básicas de Maslow, é apenas no topo que encontramos a necessidade de obter conhecimento; por conseguinte, aquilo que a escola pretende dar, incutir e 'obrigar' o aluno a atingir é o saber, esquecendo-se que as crianças e jovens são como as casas... Não se constroem pelo telhado.

Na minha prática diária com jovens e jovens-adultos em risco, utilizo esta diferenciação de necessidades básicas* que me ajudam a perceber melhor cada um e assim conseguir adequar a minha intervenção de uma forma mais eficaz e pessoal:
- necessidade de Conexão e Pertença
- necessidade de Conhecimento e Segurança 
- necessidade de Importância e Reconhecimento
- necessidade de Experiência e Novidade

Por isso, questiono-lhe: 'E se conseguisse perceber as reais necessidades dos seus alunos? E se descobrisse também as suas reais necessidades? Que resultados gostaria de atingir dentro da sua sala de aula e como se sentiria com isso?'.

São a estas e a outras questões que ajudo a 'responder' quando acompanho educadores e professores. Se quer saber como, envie e-mail para danielaflaranjeira@gmail.com ou acompanhe e contacte-me através da minha página do facebook Relações Mais Conscientes.

❤️

* (necessidades básicas segundo modelo Laser de Pedro Vieira, master trainner LifeTraining)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Ser professor, psicólogo, assistente social e educador social

Ouço muitas vezes professores verbalizarem que se sentem cansados e angustiados por terem mil e uma funções que não só ensinar: são psicólogos, assistentes sociais, educadores sociais...
Evidentemente que existindo nas escolas mais professores do que técnicos psicossociais, as necessidades mantém-se e o elemento de 'referencia' dos alunos é na sua maioria o professor.

De facto não se pode exigir de um professor que seja psicólogo, assistente social ou educador social, até porque 'não têm' as bases teorias para exercer tal função, nem tão pouco se pode exigir a estes que facilitem uma sessão de matemática, biologia...

Contudo acredito numa coisa: por detrás destas designações fictícias que nos indicam quem somos (Prof. ou Drs.), acima de tudo somos pessoas que lidam com outras pessoas.
Somos pessoas com necessidades, interesses, limitações, potencialidades, tal como aqueles a quem designamos por alunos.

Como pessoas que somos, somos corpo, mente e emoção. 
Recordo-me de ter ido 'trabalhar' muitas vezes triste, angustiada, cansada, desanimada e ao mesmo tempo também eufórica, feliz, motivada, enérgica, criativa... E isso refletia-se na minha performance profissional (aquilo que sou capaz de fazer tendo em conta o meu estado emocional).
Assumir que eu tenho este direito de sentir o que sinto, os outros também o têm (alunos, colegas de trabalho, funcionários...)

A questão que se coloca é: 'Como vamos gerir sentires diferentes e performances diferentes?'

Eu posso responder com outra questão: queres lidar com a diferença? Queres educar ou instruir? O que significa para ti tais designações?
Esse é o desafio! Definir a tua verdadeira intenção! Distanciar-me ou Relacionar-me?

No início das minhas funções enquanto educadora social o meu foco estava em 'fazer as coisas bem' e isto significava para mim que os alunos me compreendessem, ouvissem e cumprissem com as atividades que eu tinha definido, até porque muitas vezes tinha 'perdido' horas na noite anterior a preparar as sessões. E sabem: nem sempre as coisas corriam da forma 'certa' (aquela definida por mim).

Até que percebi que as coisas não funcionavam por pelo menos dois factores evidentes: o meu estado emocional não era o mais apropriado para estar a desenvolver aquela atividade e depois nem sempre o que propunha fazia sentido para os meus jovens.

Aí entendi uma coisa: partilhar como me sinto e perguntar-lhes como se sentem, fazia com que mais facilmente entrássemos em negociações e estabelecíamos uma relação em que a base era o respeito e a flexibilidade. Decidi não impor o meu mapa aos outros!

Isto parece não fazer conexão com o início deste texto, porém, pergunto: quantas vezes queremos impor o nosso mapa, as nossas expectativas, os nossos objetivos e tudo o que os jovens ou crianças precisam naquele preciso momento é partilhar uma história, um acontecimento, um sentimento, um problema, ou seja, precisam de um psicólogo, de um assistente social ou educador social...

No fundo, muitas vezes só precisam de uns ouvidos e de um olhar presente e verdadeiro.

Quantas vezes estamos disponíveis a ouvir alguém que não nos ouviu antes? Eu pessoalmente mostro algumas resistências a quem não esteve presente comigo antes. Com eles, os alunos, passa-se o mesmo.

Se os alunos não mostram interesse pelas coisas que queremos oferecer, podemos fazer várias coisas:
- perguntar o que se passa (ouvi-los)
- partilhar os objetivos da sessão
- mostrar flexibilidade, apresentando várias formas de atingir os mesmos objetivos e dar a escolher
- perguntar a ti mesm@ quanto do que preparaste, necessita de ser desenvolvido na sessão para te sentires bem
- o que estás dispost@ a abdicar
- partilhar como te sentes e como te sentirás se 'x' for cumprido
- querer criar relação ou não querer.

É respondendo a algumas destas questões que perceberás a tua verdadeira intenção!

Se a tua intenção é educar, negociar, escutar ativamente, ser flexível... Mas o teu estado emocional no momento não te permitiria estar totalmente presente, podes simplesmente partilhar:

'Sei o quanto é importante para ti partilhares todas essas coisas comigo, e eu quero muito ouvir-te, no entanto, eu estou a sentir-me cansada e muito ocupada e quando te ouvir quero estar presente. Como te sentes se falarmos mais tarde?' (Esta atitude, releva respeito pelo teu mapa e pelo mapa do outro e cumpres na mesma a tua intenção inicial como educador e tudo o que isso significa pra ti).

Agora vai e investe em boas partilhas com claras intenções pra ti!






terça-feira, 28 de abril de 2015

As minhas expectativas

As expectativas são sempre um tema controverso e pouco factual, contudo é questionável e sujeito a reflexão.
Acredito que a expectativa é a semente do sofrimento, um devaneio mental que nos aprisiona nas nossas próprias fantasias e limitações.  É o ato de esperar de mim, de alguém, do mundo, uma determinada imagem ou concepção.

Nesse sentido, podemos dividi-las em auto e hetero-expectativas, sendo que cada uma delas se relacionam e se influenciam mutuamente.

Na área da educação podemos observar as expectativas sobre vários pontos de vista:
- a sociedade exerce expectativas sobre os alunos e professores, 
- os professores exercem expectativas sobre os alunos e vice-versa
- os pais/encarregados de educação exercem expectativas sobre estes dois também. 
- cada elemento que referi (professor, aluno e enc. de educação) têm também expectativas em relação a si próprios.

É nesta última ideia que as expectativas estão inteiramente relacionadas com o meu auto-conceito, aquilo que penso que sou, aquilo que penso serem as minhas capacidades e competências. 
Independentemente se são positivas ou menos positivas, altas ou baixas, cada uma delas terá impacto no meu estado emocional, no meu comportamento e posteriormente nos resultados que estou a obter, e estes, por sua vez, validarão as expectativas que criei em relação a mim mesma.

Poder-se-à afirmar que os resultados pouco ou nada dizem sobre mim, mas mais sobre a concepção que tenho de mim propri@, e como diria José Pacheco, fundador da Escola da Ponte "As provas não provam nada".

O que sinto muitas vezes é que as expectativas que temos em relação aos alunos estão também relacionadas com os nossos preconceitos culturais e sociais. 

Quando criamos expectativas em relação a eles e o resultado que obtenho, não coincide com o 'esperado', posso escolher fazer várias coisas:
- sentir-me desiludid@ com os alunos
- sentir-me frustrad@ por não conseguir 'ensinar'
- desistir
- criar novas estratégias 
- viver em causa ou em efeito
- abrir espaço à curiosidade e aprendizagem  
- aceitar que só controlamos parte do processo - nós mesmos
- ...

O que acredito é que: 
- Se eu tomar responsabilidade sobre as minhas atitudes, se estiver predisposta a conhecer-me e a entrar num processo de aprendizagem constante, mais disponível estarei para ver os alunos à sua imagem, sem pre-concepções, julgamentos e transferências do meu mapa;
Também acredito que:
- as pessoas não são o seu comportamento;
- não existem fracassos, apenas feedbacks;
- a qualidade da minha comunicação é o resultado que obtenho dela;
- todos têm em si os recursos necessários para atingirem os seus objetivos (eu e os outros).


Quais são as expectativas em relação a ti própri@? E em relação aos outros?
Estarás preparad@ para te conheceres? Estarás preparad@ para tomar a responsabilidade das tuas atitudes, comunicação e resultados? Estarás preparad@ para aprender mais? Então, borá! :) 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A presença é tão importante!

Recebi mais uma sinalização, como tantas outras que recebo durante o meu dia. Uma menor que acabara de concluir 17 anos, com o 6º ano completo e 3 retenções no 7º.

O pai acompanhou-a, apesar de neste momento estar na vida da sua filha muito esporadicamente, pois tinha havido um processo de divórcio.
Estava desmotivada para continuar a frequentar a sua escola.
Partilhava ela: 'Tenho problemas com os meus colegas' - na conversa percebi que estava a sofrer de pressão, injúrias, adjetivação de características negativas em relação ao seu corpo e personalidade...

Este 'problema' fez com que a jovem, no ano letivo anterior, tenha desenvolvido um estado depressivo, por negação em relação a ela mesma (pouca auto-estima, confiança, segurança, auto-conceito...). Hoje tem acompanhamento pedopsiquiatrico e terapêutico.

Olhei para ela, via-a, aproximei-me e numa conversa de 45' observei que passou de um tremer de pernas inicial constantes, um olhar baixo e discreto, de discurso simples, para um sorriso, uma partilha, um olhar direto e um 'quero'.

Trago esta história, pois no final da conversa o pai partilhou:
- "Antes de virmos hoje aqui, estivemos na escola 'x', entregaram-nos um papel de inscrição para preenchermos em casa e levar noutro dia'.

Sabem...
Tudo o que esta menina precisava era de uns olhos, de uns ouvidos, de um sorriso, de um toque, de algumas palavras e acima de tudo de um sinal de esperança!

Os colegas dela são tão imaturos como certos adultos em determinadas escolas.

Ela gritava por dentro e só precisava de alguém que a conseguisse ouvir em presença!

<3

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Aceitação incondicional

Carl Rogers diz:
'Se uma pessoa é aceite, plenamente aceite, e nesta aceitação não há nenhum julgamento, apenas compaixão e solidariedade, o indivíduo está apto a abraçar-se a si mesmo, a desenvolver a coragem de abandonar as suas defesas e encarar seu eu verdadeiro.'

Os nossos processos de aceitação implicam um despir de filtros e crenças que trazemos na nossa experiência humana. A não consciência plena de que, a forma como me relaciono com o mundo segue um mapa de representações internas que me fazem avaliar e interpretá-lo fará com que me afaste da realidade em si mesma.

Na educação e no 'ser educador' este despir torna-se essencial e crucial na relação que escolho estabelecer com os educandos e inevitavelmente nos resultados que desejo obter nestas interações.

Exigimos muitas das vezes que os jovens nos ouçam, nos olhem, nos compreendam, estejam presentes e quase que me atreveria a dizer que nos esquecemos de os ver, ouvir, compreender e estar presentes, desde o primeiro encontro.

Por vezes, já no primeiro encontro lhes obrigamos a adulterar a sua identidade, através da forma de se vestir, falar, olhar, comunicar, andar... 
Quem somos nós para dizer que um boné é uma representação de 'ausência de respeito' quando na verdade não respeitamos a individualidade.
Quem somos nós para julgar a forma como os jovens se expressam, quando damos por nós a sentir desconforto sempre que alguém se ri da nossa pronúncia? 
Quem somos nós para afirmar que vestir de determinada forma determina a pessoa que é, quando nem quero imaginar como seria ir trabalhar todos os dias de lábios pintados de vermelho, pois essa não sou eu?

Em que é que uma escola ou um professor se foca quando tenta adulterar num primeiro encontro este tipo de identidade?
Estará plenamente consciente desta sua escolha ao relacioná-la com o sucesso dos jovens?
Em que é que esta alteração de identidade, diz realmente do outro? Estará a falar mais sobre o professor e da escola, do que propriamente do indivíduo que tem consigo?

A aceitação incondicional que Rogers partilha conosco tem haver com o aceitar:
- os bonés 
- os piercings 
- as tatuagens
- a história 
- o percurso
- as escolhas
- os pensamentos 
- as emoções 
- ...

Aceitar não significa concordar, Aceitar não significa cooperar, Aceitar não significa acomodar, Aceitar significa ver o outro sem julgamento e com compaixão, como um ser único, individual, com o seu mapa de crenças, valores, história, necessidades e acima de tudo, dotado de potencialidades.

Só quando formos capazes e tivermos disponibilidade para ver e aceitar o outro (aluno) ele também estará disponível e com aceitação para ver (o professor).

Aí inicia a relação! Com os olhos, os ouvidos, as mãos e os pés... Com presença e abertura!

<3 Daniela